Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Este está a ser, talvez, o pós-tratamento que mais abalo me causou. Tenho-me sentido bastante cansado, um bocado zonzo, com a boca um bocado encortiçada. Só me tem apetecido descansar, estar estiraçado...
Conforme me esclareceram as enfermeiras, é o resultado da acumulação do tratamento, que se faz sentir mais ao terceiro dia, depois de retirar o infusor (na foto), quando termina mesmo tratamento, e a acumulação dos tratamentos, que, mesmo quando terminarem, continuarão a fazer sentir os seus efeitos por mais alguns meses.
Hoje iniciei o penúltimo tratamento. Está a decorrer dentro do registo habitual. Espero que assim continui até ao final.
Também hoje, uma velha colaboradora dos antigos SMAS iniciou o seu tratamento. Há já algum tempo que também um colaborador da Câmara Municipal de Alvito faz, nos mesmos dias, o mesmo tratamento que eu. Aos dois desejo-lhos que tudo corra da melhor maneira possível.
Infelizmente, já perdi dois companheiros de infortúnio e amigos: Manuel Martins, logo a seguir ao primeiro tratamento, e Manuel Figueira, após o último, antes deste.
Não houve ainda dia nenhum de tratamento que não tivesse encontrado pessoas conhecidas, na quimioterapia, pela primeira vez. O que mostra bem como o cancro atinge tantas pessoas. Felizmente que a investigação parece estar a ganhar a luta contra a doença.
De facto, o cancro é uma doença social. Porque não afecta apenas o doente mas também os que com ele se relacionam.
Nem sempre esse relacionamento é fácil, principalmente, durante a fase da quimioterpia, por causa dos efeitos desta.
No meu caso particular, sinto que algumas pessoas que me são próximas têm dificuldade em perceber o que se passa comigo e, em consequência, de lidar comigo. Por vezes, sinto necessidade de explicar o que se está a passar, que me condiciona e altera o meu comportamento. Nalguns casos e alguma vezes, arrependo-me de o fazer porque me parece que algumas pessoas acham que me estou a vitimizar ou a tentar aproveitar da situação, para me esquivar a fazer algumas coisas. Talvez o facto de durante todo o tratamento ter levado uma vida, mais ou menos, normal, tendo apenas faltado ao trabalho nos dias em que tenho tratamento, contribua para isso...
Nem sempre é fácil conviver com essas incompreensões e pouca disponibilidade para perceberem melhor e aceitarem o que nos condiciona e altera o nosso comportamento e a necessidade de maior compreensão e aceitação da nossa condição.
Sei os problemas e as dificuldades que a minha situação que lhes causa, mas não fui eu que pedi para ter um cancro, para fazer quimioterapia e para esta me alterar o comportamento e condicionar a vida...
Hoje concluí mais um tratamento. Já "só" faltam dois.
Nestes últimos tenho sentido mais alguns incómodos, designadamente uma espécie de encortiçamento da boca e mais algum cansaço após o tratamento, no "desmame".
Também me sinto com menos paciência e mais irritadiço.
Há precisamente seis meses que me submeti a uma colonoscopia, de diagnosticou uma neoplasia no cólon ascendente (a localização não era bem esta conforme a cirurgia confirmou, daí a necessidade de um corte maior do que o previsto).
Lembro-me bem de ter recebido a notícia calmanente e de ter tido como preocupação maior conseguir que a operação se realizasse o mais depressa possível, uma vez que me foi dito que era urgente.
Felizmente que a operação se realizou rapidamente, o que certamente contribuiu para que tudo tenha decorrido bem até ao momento.
O que pensei no momemto e que comentei várias vezes depois é que não tinha encomendado um cancro mas, já que me calhou um, o que tinha de fazer é o que tinha de ser feito e esperar que tudo corresse bem, fazendo os possíveis para que isso acontecesse. E é com essa mentalidade que me tenho mantido. Nem por um momento só me passou pela cabeça que que fosse o meu fim. Talvez porque numa me senti muito mal...