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Fez hoje dois anos que fui operado a um cancro no cólon. A oportunidade com que foi feita a operação terá sido o mais determinante para me salvar. Se tivesse demorado mais e se a doença tivesse avançado mais talvez as coisas não se tivessem passado da mesma maneira.
A intervenção correu bem, apesar de ter sido maior do que a inicialmente esperada, porque a localização do tumor era diferente da diagnosticada.
Dois anos depois, quase não me lembro e parece-me que foi há muito mais tempo. Mas fazendo um esforço de memória lembro-me das dores que senti nessa noite, que quase não me deixaram dormir.
Nessas alturas sentimos como somos insignificantes. Sem praticamentre nada podermos fazer e sem a atenção e o apoio que gostaríamos de sentir e ter. Isto apesar de ter sido sempre bem tratado. Não tem a ver com o apoio profissional mas com as circunstâncias em que nos encontramos e nos sabia bem ter algum mimo... Mas também, nessas alturas, apetece-nos estar sós, quer para descansar, quer para reflectir.
Recordo ainda os dois companheiros de infortúnio, que me ladeavam na enfermaria, mais velhos e em estados bem mais complexos e graves, que já lá estavam e que que por lá continuaram quando tive alta.
Há precisamente dois anos, que a primeira colonoscopia que fiz acusou "Neoplasia (exofítica) no ascendente" do cólon - "Lesão vegetante circunferencial e estonesante de ascendente (?), não ultrapassável".
Para que não subsistissem dúvidas, perguntei, em tom afirmativo, um cancro, não é?
Logo nessa altura fui informado que deveria ser operado o mais depressa possível; que, sendo uma situação grave, não era das mais graves porque não ficaria com saco; e que poderia ter de fazer algum tratamento depois da operação, dependendo dos resultados desta e dos vários exames.
Encarei a situação com naturalidade surpreendente – porque, não tendo encomendado o cancro, tinha agora era de ver se me safava – e concentrei-me no processo que me levaria à operação no mais curto espaço de tempo, para ver se me via livre do “bicho” antes que ele me devorasse. Parece que consegui.
Ângela Relógio, natural de Ferreira do Alentejo e investigadora na Universidade de Medicina de Berlim, Alemanha, tem vindo a dedicar-se ao estudo do relógio circadiano e recebeu, em 2014, do Ministério Federal da Educação e Investigação da Alemanha um financiamento de 1, 5 milhões de euros para os próximos cinco anos. Um montante que lhe permitirá desenvolver o seu grupo de investigação que irá estudar “as características do relógio circadiano em diferentes tipos de células tumorais”.
O objetivo da investigadora alentejana é “identificar fases específicas, durante a progressão tumoral, onde o relógio escapa ao controle do organismo, o que poderá ter implicações na terapia utilizada”. Assim, como explicou ao “Diário do Alentejo, em setembro, “poder-se-á no futuro avançar mais rapidamente na área da medicina personalizada e eventualmente tratar os pacientes de acordo com o seu relógio biológico”. Este procedimento diminui os “efeitos tóxicos nos tecidos saudáveis de grande parte dos tratamentos quimioterapêuticos e poderá aumentar a sua eficiência em tecidos tumorais”.
O relógio circadiano é uma área de investigação relativamente recente e, segundo Ângela Relógio, “extremamente interessante e onde o nosso conhecimento ainda é muito limitado”. Este relógio genético regula os nossos ciclos de atividade e repouso, mas vai muito além disso, regulando vários processos biológicos a nível fisiológico e molecular.
In: http://da.ambaal.pt/noticias/?id=6984